
Alejandro Zambra rebate a síndrome do segundo romance
Quando o escritor chileno Alejandro Zambra lançou seu primeiro romance no
Brasil em 2012, foi um burburinho geral no mundo das Letras. Bonsai trazia um
refresco para a Literatura Contemporânea com sua narrativa moderna, sua
metaliteratura e intertextualidade. Meses depois, Zambra estaria no país
participando da FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty. Não deu outra: foi
amor à primeira vista/leitura entre o autor e o público brasileiro.
“Todo mundo foi muito generoso comigo”, contou o chileno ao SaraivaConteúdo.
“Foi a primeira vez que eu estive no Brasil e a estadia foi tão boa que eu até
comprei no aeroporto uma dessas bandeiras brasileiras. Coloquei-a na minha
mesa de escritório, como uma promessa de felicidade futura”.
Agora, com o lançamento do seu segundo romance em português – A vida
privada das árvores (Cosac Naify) – o autor se prepara para muitas outras visitas.
“Espero que, entre outras coisas - nem todas confessáveis – eu consiga melhorar
meu português. Eu gosto de ‘viver’ essa língua, que é tão próxima da minha e
ainda sim tremendamente misteriosa. É como estar dentro das palavras o tempo
todo, assistindo aos seus deslocamentos de significado. Gosto muito disso”.
Considerado uma das novas vozes da literatura latino-americana, Zambra
chegou a ser comparado a Roberto Bolaño pela crítica especializada, mas não se
deixa deslumbrar. “Não me preocupa muito. Admiro muito Bolaño, fui feliz
lendo-o”, ponderou.
Em A vida privada das árvores, assim como acontece em Bonsai, as plantas são
metáforas fundamentais para a compreensão do enredo. A história é sobre uma
espera: de um professor de literatura e aspirante a escritor, por sua esposa
Verónica. Como ela demora a voltar para casa, Julián se distrai com sua enteada,
brincando e contando-lhe histórias sobre árvores.
Neste bate-papo com o SaraivaConteúdo, o escritor falou sobre este segundo
romance e, também, sobre um terceiro livro ainda não publicado no Brasil
[Formas de volver a casa]. Juntos, os livros conversam muito entre si, formando
uma espécie de trilogia não premeditada. Acompanhe:
O seu primeiro romance publicado aqui no Brasil, Bonsai, teve grande
repercussão. Com a chegada da segunda obra, você teve algum receio?
Passou pela chamada “síndrome do segundo romance”?
Zambra: Não. Eu tenho medo de outras coisas, mas nenhuma delas relacionada
com a literatura. Enquanto escrevo não há mais nada, nenhuma dessas pressões.
Eu não escrevo para "terminar um livro", mas por uma necessidade interior.
Cada livro que escrevi foi porque queria fazê-lo, queria olhar para uma imagem,
para um problema, porque havia algo que eu não entendia e queria entender. A
vida privada das árvores é o livro que eu mais gosto, junto com meu poema
"Mudança".
Um dos impactos causados por Bonsai foi a forma concisa, que também
influencia no tamanho do livro, com poucas páginas. A vida privada das
árvores segue pelo mesmo caminho. Você considera uma influência da sua
experiência com poesia?
Zambra: Pode ser. Quando eu era mais novo gostava da poesia em suas versões
mais sintéticas, como os textos breves de [Ezra] Pound e, também, os haikais.
Pound dizia que escrevia “a parte mais importante” de uma história longa,
porque o resto era muito chato…. E, sim, também tenho um desejo de concisão
narrativa pois me aborrece aquela literatura ‘muito explicativa’.
A vida privada das árvores dialoga diretamente com o livro anterior,
Bonsai. E Formas de volver a casa também traz ecos dessas publicações
anteriores. Como foi esse processo criativo?
Zambra: Foi bem natural. Eu acredito que sempre se escreve o mesmo livro e é
este que vai mudando. Eu gosto de A vida privada das árvores ter nascido de
Bonsai e que Formas de volver a casa nasça de A vida privada das árvores. Mas
não foi algo tão premeditado.
Você já tinha publicado anteriormente livros de poesia e ensaios. Como foi
a transição para o romance?
Zambra: Às vezes, em momentos ruins da vida, eu sinto a necessidade de
"alfabetizar-me" novamente. Eu acho que todos nós, de alguma forma, sentimos
essa vontade súbita de experimentar, de aprender a praticar outros esportes, a
dançar de outras maneiras. É assim que vejo meu caminho para o romance. De
repente, eu disse que não.
Seus livros trazem muitas referências pop e literárias. Em Bonsai, por
exemplo, Julio começa a escrever emulando o estilo de um escritor já
consagrado. Você também começou imitando alguém? Quais são seus
escritores preferidos?
Zambra: Comecei imitando os poemas curtos de Ezra Pound e Gonzalo Millán.
Escritores favoritos eu tenho muitos, mas tenho preguiça de fazer listas, então
vou escolher apenas dois, em português, que eu poderia ler por toda a vida:
Fernando Pessoa e Clarice Lispector. Bem, vou citar um pouco mais: Natalia
Ginzburg, Jeannette Winterson, Hebe Uhart, Gabriela Mistral, Emily Dickinson,
Georges Perec, Marcel Proust, Henry Lihn, Nicanor Parra, Macedonio Fernández,
Juan Emar, Jacques Prévert, Bombal, Flaubert, San Juan de Cross, Felisberto
Hernandez e 456 outros nomes.
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